Paradoxo de Metzinger

21/03/2024 18:32

 

“Talvez o principal na investigação do egoísmo e da egologia seja o campo da neurociência. Aí pode ser encontrada uma literatura densa e técnica, antitética ao mundo cotidiano do eu cotidiano. Em Being No One (2004), por exemplo, o neurofilósofo alemão Thomas Metzinger fornece uma teoria de como o cérebro fabrica o sentido subjetivo de nossa existência como “eus” distintos, embora, como explica Metzinger, seríamos categorizados mais rigorosamente como sistemas de processamento de informação para os quais é conveniente, num sentido existencial, criar a ilusão de “ser alguém”. No esquema de Metzinger, um ser humano não é uma “pessoa”, mas um “automodelo fenomenal” que funciona mecanicamente e que simula uma pessoa. A razão pela qual não podemos examinar estes modelos é que vemos através deles e, portanto, não podemos ver os processos dos próprios modelos. Se pudéssemos, saberíamos que não existe nada para nós além desses modelos. Isto pode ser chamado de “Paradoxo de Metzinger”: você não pode saber o que realmente é, porque então saberia que não há nada para saber e nada para saber. (E agora?) Portanto, em vez de sermos nada conhecidos, existimos numa condição que Metzinger descreve como “realismo ingénuo”, em que as coisas não são cognoscíveis como realmente são em si mesmas, algo que todos os cientistas e filósofos sabem.”

 

Thomas Ligotti, A conspiração contra a raça humana: um artifício de terror