Jung e a liberdade

25/09/2016 22:07

"Por mais indubitáveis e compreensíveis que pareçam tais ocorrências ou decisões psíquicas, elas nos levam mesmo assim à conclusão errônea e não-psicológica de que fica a critério do homem criar ou não seu Deus. Mas não se trata disto, pois cada um se encontra numa disposição psíquica que limita sua liberdade e até mesmo a torna ilusória. O 'livre-arbítrio' constitui um sério problema, não somente do ponto de vista filosófico, como também do ponto de vista prático, pois raramente encontramos pessoas que não sejam ampla ou mesmo prevalentemente dominadas por suas suas inclinações, seus hábitos, impulsos, preconceitos, ressentimentos e toda espécie de complexos. A soma destes fatos naturais funciona exatamente à maneira do Olimpo povoado de deuses, como também por todos aqueles que os rodeiam. Não-liberdade e possessão são sinônimos. Por isso, sempre há na alma alguma coisa que se apodera da liberdade moral, limitando-a , suprimindo-a. Para dissimular esta realidade verdadeira mas desagradável, e para animar-se no sentido de conseguir a liberdade, as pessoas costumam usar o modismo, no fundo apotropaico, dizendo: 'Eu tenho' a inclinação ou o costume ou o ressentimento, em vez de afirmar de acordo com a verdade: 'Tal inclinação ou tal costume ou tal ressentimento me têm. Mas esta última forma de expressão custar-nos-ia a ilusão da liberdade."

 

Carl Gustav Jung, Psicologia e religião